terça-feira, 16 de outubro de 2012

RRG entrevista: Delinquentes.




Delinquentes já tem uma história considerável de 27 anos de existência. Num cenário em que tantas bandas surgem e terminam em poucos meses, a estrada trilhada pela banda é recheada de sucessos e verdadeiros marcos para a música. Formada por Jayme "Katarro" Neto (vocal), Pedrinho (guitarra), Pablo Cavalcante (baixo e backing vocal) e Raphael Lima (baterial e backing vocal). Jayme responde pela banda nessa entrevista feita por Cintia Macêdo, do RRG.

RRG: Com uma quantidade enorme de bandas que surgem e terminam em poucos meses, como vocês se sentem por estarem atravessando gerações trazendo músicas de qualidade para o público?

D: Na medida do possível, orgulhosos, porque mesmo com todas as mudanças sofridas no som devido o longo tempo, nós fazemos o que gostamos e sentimos que continuamos agradando várias pessoas e de várias gerações. Só digo infelizmente na medida do possível porque seria muito bom se uma banda com toda essa estrada como a nossa banda (e várias outras veteranas) pudessem viver de música e tivessem seu som mais valorizado ainda do que é. Mas enquanto isso é uma mera utopia, vivemos felizes tendo a banda como um grande hobbie.

RRG: Já existiram casos de pessoas que trouxeram os filhos pro show e disseram que o gosto pela banda é hereditário?

D: Sim, inúmeras vezes. Desde sempre vemos isso. Mas o caso mais recente em que isso aconteceu em grande escala foi na gravação do nosso DVD, porque haviam muitas crianças presentes, levadas pelos seus pais. Em alguns casos, cheguei a ver avôs levando seus netos para curtirem o mesmo som que eles curtiam na década de 80.

RRG: Vocês fizeram um show memorável na Praça da República para a gravação do 1º DVD da banda. Como foi a experiência de reviver uma fase dourada da cena rock de Belém? Como está a ansiedade para o lançamento do dvd?

D: Ver a praça tomada de rockeiros sempre é emocionante, e fazia tempos que não sentíamos aquele clima que se instaurou na praça. Segundo a estimativa da polícia, foram de 3 a 4 mil pessoas que estavam celebrando um momento único na história da banda, sem qualquer índice de violência. Foi tudo muito bem estudado e organizado para que desse tudo certo, e quando subimos no palco, foi só emoção e adrenalina.

RRG: A banda teve problemas com a energia elétrica no Rock Rio Guamá do ano passado e também teve problemas com a energia na gravação do DVD... A energia de vocês é tão grande que dá pico na rede... Como vocês fazem pra manter essa energia toda?

D: HAHA!! Menos. Se eu contar que num passado distante, na época do Rock 6 horas, também sofremos com um bleckout na cidade a galera iria achar que era marcação da Celpa conosco. Mas isso acontece mesmo. A quantidade de shows que já fizemos, se formos contar, esses “incidentes” (que pode acontecer com qualquer banda mesmo), foram mesmo de 1% na conta geral. Então está de boa. Na gravação do DVD não chegou bem à ser um grande incidente. Foram alguns segundos e foi logo resolvido. Mas no Rock Rio Guamá do ano passado realmente foi tenso. Nosso guitarrista (Pedrinho) estava louco para estrear seu set de pedais novos e bem na hora que estávamos no palco, aconteceu o imprevisto. Mas foi bacana terem nos chamado de novo este ano para darmos essa forra pra galera (público), e porque não dizer, para nós mesmos? Queremos levar um set destruidor em homenagem à CELPA!!!

Sintam só um gostinho do que teremos no Rock Rio Guamá! Com vocês, "Vagamundo" da banda Delinquentes: 


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

RRG entrevista: Marcel Barretto



Marcel Barretto conquista fácil, fácil, na primeira audição. O cantor passou um tempo no Rio de Janeiro e agora se dedica à pré-produção de seu primeiro disco solo. Cresceu com mãe musicista, trabalhou com grandes nomes da música paraense e vem de uma mistura de ritmos e artes diversas. O resultado desse mix todo? Vocês conferem nessa conversa de Karina Menezes com Marcel, sobre a música, as artes, o disco, a mãe...


RRG: Estás em fase de pré-produção do teu primeiro disco solo. Há quanto tempo começaste a pensar nesse projeto, quando vamos poder conhecer o resultado desse teu trabalho? Quais as sensações e impressões que esperas deixar nas pessoas, com teu primeiro álbum? 

MB: Sempre compus muito em todos os projetos que estive, mas durante a estadia e experiência que peguei no Rio de Janeiro, decidi despejar as energias no meu projeto solo, fazendo as músicas exatamente do jeito que eu gostaria e tocar o que me agrada. Quero deixar nas pessoas a ideia que música paraense não é apenas um ritmo ou timbre. Não tenho uma pegada muito regional, uso muitas linhas simples de guitarra, batidas eletrônicas e letras simples de amor. Não tem muita influência de caribe, merengue, guitarrada e tal. Não que eu não curta, mas o trabalho que leva meu nome tem que me agradar 100%. E eu só componho e gravo o que gosto. Não procuro fazer parte de um grupo de artistas preocupados em atender a demanda de novidades musicais nacionais, ainda mais agora que o Pará esta em evidência. Tá todo mundo brega, guitarreiro, mestre de alguma coisa, enfim... Minhas músicas saem de violão e voz, e não tem muito mistério. Então, nesse primeiro CD, eu quero misturar essa simplicidade das canções de poucas notas com funk, eletrônico, metais, percussão e muita guitarra. Estou com uma equipe ótima e estamos ansiosos pra começar a gravar o CD valendo! 


RRG: Falando em disco, tu assinaste a arte do álbum do Juca Culatra & os Piranhas Pretas. Também enveredas por esse lado das artes visuais?

MB: As artes visuais (por sinal, fui aluno de artes visuais da Federal, mas larguei) estarão sempre comigo, gosto muito de desenhar e pensar arte. Costumo fazer umas festas pra me manter em movimento e a maioria delas eu mesmo assino a capa do evento. Festas como Experimental e Miscelânea, onde conto com a ajuda de Gustavo Moreira; meu tecladista, amigo e irmão, Dan Bordallo; a banda Enquadro e inúmeros amigos que somam. Pretendo fazer a arte do meu primeiro CD valendo e, pra isso, vou consultar meu oráculo e mentor, que se chama Cássio Tavernard. E de lá veremos como vai ser a arte, em uma reunião com café preto e muitas risadas.


RRG: O som que fazias com o Juca Culatra era bem diferente do som que fazes agora. Já tocaste com Almirzinho, Tom Salazar, mandaste ver em um cover do The Cure... Qual a importância desse intercâmbio entre ritmos pra ti e o que levas pra tua música dele?

MB: O projeto com o Juca era mais reggae e como o batera, o grande Jr Gurgel, é um ótimo baterista de groove música brasileira, acabamos fazendo um CD de estilo bem variado, e o que seria reggae do início ao fim, acabou virando um Brasilsambarockreggaedub. O Juca foi muito importante pra minha formação musical, pra palco, pra correria, pra paciência, pra tudo. Depois fiz uns shows com o Teatro Mágico de Osasco, na época que morei no RJ, que abriu minha cabeça completamente e me fez correr atrás da minha obra. Com Almirzinho Gabriel e Tom Salazar... Sorte que a experiência que peguei pelo Brasil me deu condições de ter como somar e ter credibilidade com esses incríveis artistas que eles são! Amo Almirzinho Gabriel pelo artista, pessoa e obra. Tom Salazar é um dos guitarristas mais educados de Belém, é super experiente e sempre atualizado. Um cara muto especial e amado também. Essa interação com esses artistas é uma grande troca, porque todos somam e multiplicam pelas pessoas e aristas que são. Procuro sugar o melhor da música e da personalidade e colocar esses enfeites na minha árvore de Natal.  


RRG: Cresceste com uma mãe musicista. Tem alguma particularidade no teu trabalho que identifiques teres herdado dela?

MB: Minha mãe é tipo a minha evolução de outra época. Sempre gostei de ouvir as composições dela. As canções, lindas e simples, o quanto ela domina o violão, a técnica que ela mesma desenvolveu... O que eu herdei de mais forte foi o gosto pela música de ninar, canção direta e simples,  o lado eletrônico groove e a guitarra, que já veio no pacote comigo. Sem falar que ela é um grande guru, tanto espiritual quanto musical, vai em todos os shows, é um grande exemplo pra mim!


Escuta o Marcel Barretto no SoundCloud 

 
 
 






quinta-feira, 11 de outubro de 2012

RRG entrevista: Baixo Calão





E a sabatinada da vez é com a Baixo Calão, banda de Grindcore da mangueirosa. Formada por Beto Core e Leandro Pörckö (vocais), William Gomes (bateria), A. Felipe (baixo) e Danilo Leitão (guitarra), a Baixo Calão anda pelos submundos do rock há dezesseis anos. A banda passou o mês de julho em turnê pela Europa, para divulgar o disco Atmo Mediokra. É William quem representa a BC nessa entrevista com Karina Menezes, do RRG:  

RRG: A Baixo Calão já tem aí dezesseis anos de estrada. Quais as principais mudanças que vocês identificam na banda, além da alteração de percurso, digamos assim, do Punk/HC pro Grindcore?


BC: Acima de tudo, creio que não houve mudanças tão grandes assim. Eu diria que essa mutação no som da banda se deve a evolução natural de nós como músicos (se assim podemos dizer). No início, sempre quisemos fazer um som mais próximo possível das bandas que ouvíamos, que em sua maioria eram de Grindcore e Hardcore finlandês, mas éramos um bando de moleques que não sabia tocar direito seus instrumentos.  E isso passou a mudar quando ocorreu a entrada natural de outros integrantes. No início, nossas letras eram mais escrachadas, gostávamos de dar a mensagem na cara. Hoje, gosto de dizer que cada nova composição surge como um parto cerebral, e a pré-temporada antes de um novo disco é indubitavelmente repleta de dores de partos cerebrais. Acho que posso dizer que a mudança mais latente na banda, dentro desses 16 anos de labuta, seria a forma como ela se mostra hoje, pois a essência é a mesma. Fazemos o que gostamos de fazer, da forma mais verdadeira possível, e sem avaliar o que a tendência momentânea está pedindo. Resumindo, creio que a banda é a mesma de 16 anos atrás.

RRG: As músicas da Baixo Calão trazem letras críticas, de libertação da própria sociedade, contra preconceitos, religião, e qualquer outro tipo de manifestação que possa nos limitar. Vocês conseguem encontrar eco no público de vocês, a mensagem que a banda quer passar realmente chega?


BC: Essa é uma pergunta realmente interessante. É certo que qualquer texto escrito, por mais banal que seja, no fundo quer passar uma mensagem. Mas ousaria dizer que nossas letras não tem puramente esse intuito. Usando como exemplo os álbuns “Tú Crias” e o último, “Atmo Mediokra”, eles possuem letras que falam, basicamente, de um tema geral, o ser humano. Ora, é latente que todos podem assistir a um telejornal (o pior que seja) e ver as mazelas geradas por nós mesmos contra a natureza, contra a cultura e, pior ainda, contra sua própria raça. Mas aí que mora o problema.  A maioria vê isso, mas não consegue enxergar de verdade, continua boiando em supérfluas e triviais piscinas cheias de materialismo e falsas consciências sociais. O remédio pra angústia no homem não é a hipocrisia, e sim enxergar a dor que cerca o ser humano e confrontá-la. Por isso podemos dizer que nossas letras são uma espécie de observação sobre o ser humano. Se alguém que consome nossa música ao menos parar um pouco para refletir sobre isso, ótimo.  No geral, creio que uma grande parcela está absorvendo bem nossas ideias, isso se mostra nas conversas em nossos shows.


RRG: Depois que vocês voltaram da tour europeia do Atmo Mediokra, estão com algum projeto em vista ou ainda estão se dedicando à divulgação desse último disco? Aqui no Brasil, como anda a receptividade em relação ao trabalho de vocês?

BC: A turnê correu melhor do que imaginávamos. Por isso, nossos próximos planos têm relação ao que foi plantado na turnê. Devemos lançar em breve alguns splits com bandas da República Tcheca e Bélgica. Temos um plano de lançar um livro sobre as desventuras na tour europeia. Mas ainda devemos continuar fazendo a divulgação do disco pelo Brasil, estamos devendo um giro por São Paulo. O Eduardo, da gravadora paulista HC80, que junto com os selos Distro Rock e Rola Bosta Discos, lançou o “Atmo Mediokra”, já nos intimou a pisar em terras paulistanas. Tem muita gente que conhece e curte a banda por lá. 

RRG: Como anda a dinâmica da cena Grindcore no país? Alguma mudança significativa que vocês tenham notado nela nesses últimos anos?


BC: Hoje em dia, o termo Grindcore é muito usado, mas existem muitas diferenças e estilos que acabam misturando tudo. Às vezes, por ter uma bateria veloz, guitarra suja e vocal gritado, a banda se diz Grindcore. Nada contra, cada um faz o que quiser, mas creio que se deveria ter mais discernimento e embasamento no que se propõe a fazer. Uma coisa legal que vem acontecendo em Belém é que cada vez mais temos shows de bandas desse estilo, graças a um punhado de produtores independentes corajosos, como o Carioka, do Icoaraci Attack, e Kaká, da Xaninho Discos Falidos. Eles ousam trazer bandas de fora do estado e de fora do Brasil para nos presentear e, às vezes, esses eventos nem são valorizados como deveriam. Todo esforço “do it yourself” é válido e merecedor de prestígio. Uma coisa que sempre foi verdade no meio Hardcore nacional é que não existe disputa. Hoje nos relacionamos com infinitas bandas do Brasil no circuito Grind, Crust, D-beat, e o que rola é uma grande comunhão. Durante o agendamento da turnê europeia (que teve como booking a Xaninho Discos Falidos), tivemos ajuda e incentivo de várias bandas amigas que já  tinham  experiência de mil anos em roles na Europa.

Aqui embaixo vocês conferem o clipe da música "Edadinamuh". Prontos pra ouvirem Baixo Calão no Rock Rio Guamá 2012?  




terça-feira, 9 de outubro de 2012

RRG entrevista: Molho Negro







João Lemos (vocal e guitarra), Raony Pinheiro (baixo) e Augusto Oliveira (bateria). Juntamos a esse trio os riffs cativantes e as letras engraçadas e temos a Molho Negro, banda que nasceu em 2011, no fundo das garagens da Amazônia. A banda já carrega nas costas um EP, tour pelo nordeste, participação em diversos festivais e muitos fãs. João Lemos responde Karina Menezes, do Rock Rio Guamá: 

RRG: Faz um tempinho que vocês voltaram de uma turnê pelo Nordeste. O que vocês viram de mais legal na música por lá e que vocês recomendam? E o que vocês trouxeram de novo na bagagem do Molho?

MN: A cena do nordeste é bem roqueira e gosta bastante de guitarra, que nem a gente aqui no norte. A gente recomenda Red Boots, Camarones, Kung Fu Johnny, Monster Coyote, Calistoga e Far From Alaska, pra quem gosta de ver o circo pegar fogo. Mas também tem Simona Talma e Khrystal, pra dar uma acalmada. Aproveitamos a passagem e o aprendizado e gravamos um material novo por lá, que esse mês ainda tá no ar pra galera. 

RRG: A música paraense é a nova menina dos olhos da mídia e tem exportado muitos artistas (vide O Globo, coluna do Regis Tadeu no Yahoo, o Terruá). O que fazer pra não deixar acabar por aí? Como reverter essa visibilidade em ações que tragam resultados a longo prazo pra nossa música e pros nossos artistas, mesmo pra quem não esteja se beneficiando diretamente desse momento? 

MN: Muitas coisas. Acho que o principal é evitar se deixar levar somente pelo hype. Uma cena sólida se constrói no dia a dia, durante anos, independente de ter muito incentivo estatal ou não, fortalecendo a confiança nos nossos artistas e no nosso potencial como escoador de cultura. Acho que a coisa pode andar com as próprias pernas, pra sempre.

RRG: Vocês cativam muito e de primeira, por fazerem o tal do rock simples, puro, objetivo e sem firula. Muitas bandas não conseguem ter essa empatia quase imediata com o público. Tá sobrando vontade de fazer firula e faltando vontade de fazer música por aí? 

MN: Aí eu já não sei, acho que o Molho tem a sorte de ser divertido, sem fazer papel de palhaço, é rock, dá pra dançar, tirar onda, bater cabeça, falar de sacanagem. E numa festa são coisas importantes, né não?

RRG: Em entrevista ao Grito Rock Belém, esse ano, o Molho falou sobre a melhora na estrutura do cenário musical independente e a superlotação de bandas e artistas nesse cenário. Essa explosão de estilos, cenas e interesses não pode, de certa forma, ser um obstáculo pra consolidação de um cenário musical independente mais unido pela busca de incentivos? 

MN: Não consigo visualizar como obstáculo, mas é um desafio. Hoje, qualquer banda que tenha quatro meses de vida e que se preze, tem que ter EP, foto, perfil em mídia social, clipe e bla bla bla... Essa superlotação costuma fazer o nível subir. Pra se fazer algum barulho hoje, tem que gritar bem mais alto que há 15 anos atrás.

Confiram a participação da Molho Negro no DosolTV Sessions, resultado da passagem que a banda fez pelo nordeste: