quinta-feira, 11 de outubro de 2012

RRG entrevista: Baixo Calão





E a sabatinada da vez é com a Baixo Calão, banda de Grindcore da mangueirosa. Formada por Beto Core e Leandro Pörckö (vocais), William Gomes (bateria), A. Felipe (baixo) e Danilo Leitão (guitarra), a Baixo Calão anda pelos submundos do rock há dezesseis anos. A banda passou o mês de julho em turnê pela Europa, para divulgar o disco Atmo Mediokra. É William quem representa a BC nessa entrevista com Karina Menezes, do RRG:  

RRG: A Baixo Calão já tem aí dezesseis anos de estrada. Quais as principais mudanças que vocês identificam na banda, além da alteração de percurso, digamos assim, do Punk/HC pro Grindcore?


BC: Acima de tudo, creio que não houve mudanças tão grandes assim. Eu diria que essa mutação no som da banda se deve a evolução natural de nós como músicos (se assim podemos dizer). No início, sempre quisemos fazer um som mais próximo possível das bandas que ouvíamos, que em sua maioria eram de Grindcore e Hardcore finlandês, mas éramos um bando de moleques que não sabia tocar direito seus instrumentos.  E isso passou a mudar quando ocorreu a entrada natural de outros integrantes. No início, nossas letras eram mais escrachadas, gostávamos de dar a mensagem na cara. Hoje, gosto de dizer que cada nova composição surge como um parto cerebral, e a pré-temporada antes de um novo disco é indubitavelmente repleta de dores de partos cerebrais. Acho que posso dizer que a mudança mais latente na banda, dentro desses 16 anos de labuta, seria a forma como ela se mostra hoje, pois a essência é a mesma. Fazemos o que gostamos de fazer, da forma mais verdadeira possível, e sem avaliar o que a tendência momentânea está pedindo. Resumindo, creio que a banda é a mesma de 16 anos atrás.

RRG: As músicas da Baixo Calão trazem letras críticas, de libertação da própria sociedade, contra preconceitos, religião, e qualquer outro tipo de manifestação que possa nos limitar. Vocês conseguem encontrar eco no público de vocês, a mensagem que a banda quer passar realmente chega?


BC: Essa é uma pergunta realmente interessante. É certo que qualquer texto escrito, por mais banal que seja, no fundo quer passar uma mensagem. Mas ousaria dizer que nossas letras não tem puramente esse intuito. Usando como exemplo os álbuns “Tú Crias” e o último, “Atmo Mediokra”, eles possuem letras que falam, basicamente, de um tema geral, o ser humano. Ora, é latente que todos podem assistir a um telejornal (o pior que seja) e ver as mazelas geradas por nós mesmos contra a natureza, contra a cultura e, pior ainda, contra sua própria raça. Mas aí que mora o problema.  A maioria vê isso, mas não consegue enxergar de verdade, continua boiando em supérfluas e triviais piscinas cheias de materialismo e falsas consciências sociais. O remédio pra angústia no homem não é a hipocrisia, e sim enxergar a dor que cerca o ser humano e confrontá-la. Por isso podemos dizer que nossas letras são uma espécie de observação sobre o ser humano. Se alguém que consome nossa música ao menos parar um pouco para refletir sobre isso, ótimo.  No geral, creio que uma grande parcela está absorvendo bem nossas ideias, isso se mostra nas conversas em nossos shows.


RRG: Depois que vocês voltaram da tour europeia do Atmo Mediokra, estão com algum projeto em vista ou ainda estão se dedicando à divulgação desse último disco? Aqui no Brasil, como anda a receptividade em relação ao trabalho de vocês?

BC: A turnê correu melhor do que imaginávamos. Por isso, nossos próximos planos têm relação ao que foi plantado na turnê. Devemos lançar em breve alguns splits com bandas da República Tcheca e Bélgica. Temos um plano de lançar um livro sobre as desventuras na tour europeia. Mas ainda devemos continuar fazendo a divulgação do disco pelo Brasil, estamos devendo um giro por São Paulo. O Eduardo, da gravadora paulista HC80, que junto com os selos Distro Rock e Rola Bosta Discos, lançou o “Atmo Mediokra”, já nos intimou a pisar em terras paulistanas. Tem muita gente que conhece e curte a banda por lá. 

RRG: Como anda a dinâmica da cena Grindcore no país? Alguma mudança significativa que vocês tenham notado nela nesses últimos anos?


BC: Hoje em dia, o termo Grindcore é muito usado, mas existem muitas diferenças e estilos que acabam misturando tudo. Às vezes, por ter uma bateria veloz, guitarra suja e vocal gritado, a banda se diz Grindcore. Nada contra, cada um faz o que quiser, mas creio que se deveria ter mais discernimento e embasamento no que se propõe a fazer. Uma coisa legal que vem acontecendo em Belém é que cada vez mais temos shows de bandas desse estilo, graças a um punhado de produtores independentes corajosos, como o Carioka, do Icoaraci Attack, e Kaká, da Xaninho Discos Falidos. Eles ousam trazer bandas de fora do estado e de fora do Brasil para nos presentear e, às vezes, esses eventos nem são valorizados como deveriam. Todo esforço “do it yourself” é válido e merecedor de prestígio. Uma coisa que sempre foi verdade no meio Hardcore nacional é que não existe disputa. Hoje nos relacionamos com infinitas bandas do Brasil no circuito Grind, Crust, D-beat, e o que rola é uma grande comunhão. Durante o agendamento da turnê europeia (que teve como booking a Xaninho Discos Falidos), tivemos ajuda e incentivo de várias bandas amigas que já  tinham  experiência de mil anos em roles na Europa.

Aqui embaixo vocês conferem o clipe da música "Edadinamuh". Prontos pra ouvirem Baixo Calão no Rock Rio Guamá 2012?  




Um comentário:

  1. No aguardo do show dessa banda que é uma grande representante do submundo musical de Belém!

    ResponderExcluir